Resenhando: O Canto da Sereia (Série)

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Por Adriana Santana

Atenção! Essa crítica contém spoilers.

A microssérie “O Canto da Sereia”, exibida em quatro capítulos na Rede Globo em janeiro, é uma boa adaptação do livro de Nelson Motta. Os autores foram fiéis ao texto original e, quando optaram por mudanças, elas foram bem colocadas. A excessiva fidelidade incomodou o jornalista e cineasta Raul Moreira, que escreveu que isso impediu a série de abordar assuntos polêmicos e importantes, como a “marginalização” dos cordeiros e folião pipoca na festa de Carnaval.

Sem ater à questão relevante apontada pelo crítico, o quase rigor com que seguiram o texto de Motta me agradou. Algumas passagens, como o assassinato de Tuta Tavares, o encontro com os tios de Sereia e a criação do personagem Só Love, foram obra dos roteiristas da versão televisiva, mostrando que o novo dialogou bem com o original. Até suspeito que Motta tenha aprovado o final lançado pela série, que traz apenas como mudança o “quem matou”, mantendo todas as circunstâncias. Só Love, personagem inventado aqui, representa o melhor assassino que Sereia deveria ter, pela lealdade e amor condicional que destinava à musa.

Além de se mostrar bom personagem, Só Love constatou a genialidade do ator baiano João Miguel, o melhor em cena. Assim como Fabíula Nascimento, que representa Mãe Marina – de uma forma igualmente exemplar, com um sotaque tão bom que suspeitei que a curitibana fosse soteropolitana –, João Miguel vem de uma boa trajetória no cinema, mostrando sua força na TV há pouco tempo. Eles atuaram juntos no premiado Estômago, uma co-produção Brasil/Itália.

Os atores João Miguel e Marcos Palmeira com o diretor Villamarin

Os atores João Miguel e Marcos Palmeira com o diretor Villamarin

Outro que se destaca pela atuação é o também baiano Fábio Lago. Seu personagem, Vavá, é o mais divertido da série e o que representa melhor o sotaque soteropolitano que ouvimos nas nossas conversas cotidianas – com o uso excessivo do “véeeiii”, “lá ele” e bordões clássicos como “você acha que sou suas nega é?”. Ele supre bem a falta de sintonia da protagonista vivida por Ísis Valverde. Não rejeito por completo sua interpretação, a atriz carrega como vantagem a sensualidade e conseguiu trazer para a tela a complexidade da musa egocêntrica, com suas risadas debochadas e sofrimento latente. Ainda assim, acho que uma atriz baiana, de preferência cantora (por que não Emanuelle Araújo?), faria melhor.

Por fim, a beleza das cenas e a escolha da trilha sonora (com Caetano Veloso, Gal Costa, e uma seleção de clássicos do axé) merecem elogios. O diretor de fotografia da série, Walter Carvalho, assumiu pela primeira vez um trabalho na televisão. Fez uma boa dupla com diretor geral, José Luiz Villamarim, já elogiado pelo resultado da novela Avenida Brasil, justamente porque conseguiu levar para a TV a dramaturgia do cinema. São definitivamente cinematográficas – e belíssimas! – as cenas da morte da cantora e a que pede para Só Love executá-la. Definitivamente a série é massa, merece ser vista.

Para assistir:

Episódio 1

Episódio 2 (parte 1)

Episódio 3

Episódio 4

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