Arquivo mensal: janeiro 2013

Check-In na Lavagem do Bonfim

Check-In na Lavagem do Bonfim

Imagem: Julien Karl / Portal G1

Por Alexandre Alves

“Glória a ti, neste dia de glória”

Envolvida por um mar repleto de branco e, também, de todas as cores e sabores, axés e religiões diferentes, a Lavagem do Bonfim aconteceu por mais um ano em Salvador. Neste misto de fé, alegria e disposição para cumprir os 16 km do percurso, a festa foi, mais uma vez, símbolo da nossa tradição e sincretismo. Embora os políticos quisessem chamar a atenção da festa mais do que o próprio santo anfitrião, a Lavagem começou com a saudação a Oxalá: “Êpa babá!”*

Para aqueles que são devotos da lavagem, algumas situações já são velhas conhecidas: o jegue (para fúria dos ambientalistas), as marchinhas carnavalescas, o bloco dos gringos (pessoas de outros países que aparecem com a cara  torrada do sol e chegam com seus sotaques pitorescos, tentando se enturmar com a nossa gente) e, pra completar, a reunião de artistas que caíram no ostracismo e enxergam na festa uma oportunidade de matar a saudade dos tempos de glória junto ao público.

Além disso, outra coisa que é comum acontecer na Lavagem é a “sorte” de encontrar aquele amigo (a) que você não tinha notícia há um bom tempo, perdido no meio da multidão. Pronto! Aí o culto da hospitalidade de todo bom soteropolitano fala mais alto e você se vê na obrigação de dividir aquela cervejinha para que se cumpra o mandamento principal das festas populares na Bahia, cuja premissa nº 01 diz: “quando o sujeito (a) encontrar o amigo nestes momentos, todo baiano que se preze deve fazer a seguinte pergunta: ‘e aí véi, bó tomar uma?’, e só depois deste ritual poderá seguir o caminho em paz”. É o que reza a lenda.

Outra peculiaridade da festa diz respeito a uma grande contradição. Ocorre que muita gente faz o percurso de 16 km e volta pra casa 3 kg mais pesado. Como se explica esse fenômeno? Para aqueles que estão interessados em ganhar uns quilos a mais, prestem muita atenção: primeiro, você toma um café bem reforçado antes de ir para festa, assim que chegar no bairro do Comércio bebe uma água de coco para “iniciar os trabalhos” e, logo em seguida, pode ficar sossegado para tomar cerveja à vontade. Ao passar pelo bairro da Calçada, se delicie com um churrasco ou queijinho para rebater o álcool e, quando chegar na Colina Sagrada – depois das preces e do banho de água de cheiro –  desça na Baixa do Bonfim ou no estaleiro (conjunto de bares que ficam localizados na enseada da Ribeira). Para encerrar o serviço, peça um prato de feijoada – cheio de carne e sempre acompanhada da cerveja – e siga em frente até a hora que o bolso e o corpo aguentarem.

Na volta para casa, para quem mora no Subúrbio há duas opções: ou pega a travessia de barco Plataforma-Ribeira, ou vai para estação da Calçada que (graças à Deus!) está funcionando. Pra quem mora em outros bairros da cidade, o jeito é voltar pro Comércio e pegar o carro, ônibus ou táxi para ir pra casa. Pronto! Agora sim podemos dizer que o ano começou de verdade, e, a partir daí, é só voltar à rotina e juntar dinheiro, porque dia dois de fevereiro tem festa no mar. Odoyá!**

* “Êpa babá” – Saudação a Oxalá, representação do Senhor do Bonfim no Candomblé.

** “Odoyá” – Saudação a Yemanjá.

Veja aqui mais fotos da Lavagem do Bonfim – 2013

Festival de Verão Salvador: cheio de histórias para contar*

Por Raulino Júnior**

Festival-de-Verão-2013-em-Salvador

Não tem como pensar na estação mais ensolarada do ano e não lembrar de um evento que já faz parte do calendário cultural da Bahia: o Festival de Verão Salvador. Partindo para a sua 15ª edição, a festa deste ano acontece de 16 a 19 de janeiro e promete repetir o sucesso das edições passadas. Isso porque o mote da mistura vai ficar ainda mais evidente. Artistas de diversos segmentos musicais vão se apresentar no palco principal, batizado de 15 Verões. Além desse palco, o público vai poder se divertir em outros espaços da cidade da música, como a Passarela do Ritmo, a Bis Experience (Tenda Eletrônica) e o Estúdio do Som Faculdade Maurício de Nassau.

Desde que estreou, em 1999, o Festival de Verão Salvador protagonizou acontecimentos marcantes e que já entraram para a história da crônica musical brasileira. Na 1ª edição, o cantor Lazzo abriu o evento cantando o Hino ao Senhor do Bonfim e, com isso, parece ter feito um pacto com o santo, que abençoou todas as edições do evento desde então. Em 2001, o Festival provou que a sua identidade é a de reunir artistas de ritmos diferentes e colocou, num mesmo palco, Chico Buarque e Carlinhos Brown, que cantaram juntos. Já na 5ª edição, em 2003, dois shows foram muito esperados pelo público: o da banda Os Paralamas do Sucesso e o do grupo teen Rouge. O d’Os Paralamas porque foi o primeiro de Herbert, em Salvador, após sofrer o acidente de ultraleve em 2001. 

O radialista e produtor artístico Andrezão Simões, 46 anos, reforça isso: “O retorno de Herbert a Salvador foi, para mim, o momento mais marcante de toda a história do Festival”. Na mesma época, o Rouge, um dos maiores fenômenos musicais do Brasil, colocou todo o Parque de Exposições para dançar ao som de Ragatanga. O Festival de Verão, além de trazer alegria, também marca a vida de muita gente. Para a estudante de Produção Cultural da Universidade Federal da Bahia, Adrielly Magly, 22 anos, que esteve pela primeira vez no Festival de Verão Salvador aos 13, o momento inesquecível do evento foi o show da banda O Rappa. “Lembro da data até hoje: 1º de fevereiro de 2004. O Rappa subiu ao palco e eu soube pela primeira vez o que era estar viva! Foi isso que escrevi no meu diário logo que voltei do meu primeiro Festival. Nunca tinha visto tanta gente junta, tantos desconhecidos reunidos em função de um único sentimento: o amor pela música. Naquele momento, entendi o que, de fato, significava ‘aquela mistura’”, filosofa.

Diante de tantas histórias, alguém tem dúvida de que o Festival ainda vai marcar muitas vidas?

* O texto foi selecionado no concurso cultural “Venha estagiar na mistura do Festival de Verão”, promovido pela Via Press Comunicação Integradado qual Raulino Júnior foi um dos vencedores.

* Estudante de Jornalismo da Universidade Federal da Bahia.

Descaso com Salvador

Vergonha Alheia Janeiro03

Imagem: Raul Spinassé / A Tarde

Por Jordana Feitosa

Ter o prazer de passar quinze dias em companhia de amigos queridos que vieram direto de Cuiabá (MT) não é para todos, entretanto, passear em Salvador nesse início de verão tem sido um salve-se quem puder dos buracos, odor desagradável em vários pontos da cidade, descaso com importantes locais soteropolitanos (e turísticos!), além da falta de sinalização na cidade inteira (caso jurássico).

É uma vergonha morar numa cidade tão bonita, mas que não tem a estrutura mínima para receber qualquer que seja.  A receptividade peculiar do baiano não pode ser responsável sozinha pelo fluxo de inúmeros indivíduos que por aqui deixam montantes de dinheiro, que ninguém sabe aonde vão parar. Receptividade essa que NÃO significa de modo algum bom serviço, porque pagar DEZ reais para estacionar num local proibido, esperar no sol quente a fila do Elevador Lacerda com apenas uma cabine funcionando, passear pelas ruas de um Pelourinho abandonado e sentir cheiro de xixi ao passear pelas ruas não tem ajudado muito. Sem mencionar os atendentes de estabelecimentos e motoristas de ônibus que acreditam estar fazendo um favor em servir a população em geral.

Onde estão sendo investidos nossos impostos? Em excesso de propaganda ou construção de pracinhas superfaturadas? Ok, ok, o antigo prefeito dispensa comentários na sua morosidade e descaso com a cidade, mas culpá-lo apenas não justifica.  E nós, o que fazemos? A passividade e comodismo do soteropolitano também sustenta esse caos que se tornou a cidade. O pior é perceber que o sucessor na prefeitura do município apresentou medidas emergenciais que em nenhuma linha pode-se perceber ações emergenciais para estrutura física da cidade que ferve no verão.

Prova disso é não encontrar novas medidas, ações efetivas de reparo (que seja), em locais críticos da cidade como a Baixa do Fiscal, que há muitos anos têm problemas insustentáveis com alagamento. Ultimamente nem é preciso chover para isso acontecer, pois há mais de um ano existe um ponto da pista totalmente tomado por uma água fétida que provoca um engarrafamento diário, além de prejudicar a saúde daqueles que por ali transitam.

Todavia, distribuir multas nos carros estacionados na Barra é uma medida vista como positiva já que “limpa” uma área tão conhecida e frequentada, promovendo a retomada das atividades da Secretaria de Engenharia de Tráfego, há muito sucateada – a começar pelo seu efetivo – para encher os cofres municipais.  Enfim, o que esperar desse Verão 2013 numa cidade assim? Sinto muito, mas não sei se muita coisa além da vergonha alheia de muitos anos.

 Mas podemos ir “dançando, dançando, dançando” para não perder o verão com Ivetão, “quebrando tudo, levando tudo, jogando as mãos pra cima” com Xandão ou arrochando com Pablo enquanto somos enganados (ou não, vai saber!) por mais quatro anos. Afinal, estamos na terra do Carnaval (e tem dois em 2014!).